terça-feira, 1 de janeiro de 2013


  FESTAS E COMPRAS

Atualmente ir a festas costuma ser um processo longo e complicado. Começa com uns três meses antes do evento quando se recebe o convite e se é obrigado, com toda essa antecedência confirmar se irá estar presente. O contemplado nem sabe se irá viver tanto, mas já tem que decidir o que fará dali a três meses.
Isso se deve ao fato de que o seu anfitrião, na boa intenção de criar um acontecimento marcante, seja lá o próprio casamento, o aniversário de quinze anos da filha mais velha ou um outro festejo qualquer, vira refém de um  buffet que lhe promete sucesso total para sua recepção. E é para se programar que a empresa organizadora precisa saber exatamente quantos serão os comensais. Se número extrapolar o anunciado pelo contratante do serviço, todos os excedentes correm o risco de serem impedidos  de entrar no salão ou, na melhor das hipóteses, quando o anfitrião resgata um convidado das garras do leão de chácara que recolhe os convites, este amigo, por mais íntimo que lhe seja, será considerado um penetra e terá  limitado os seus direitos a salgadinhos e bebidas já que estará sob a mira sempre zelosa da representante da organizadora da comemoração.
O anfitrião pode escolher vários tipos de salgados desde as tradicionais coxinhas de galinha aos canapés mais sofisticados; dos docinhos mais simples aos mais refinados; e as bebidas vão do guaraná feito em fábrica de fundo de quintal  aos  mais elaborados vinhos importados. Mui cortesmente, a representante do evento irá convencê-los das escolhas mais, digamos, prestigiosas, pois seus amigos, ninguém duvida, merecem o melhor, ainda que o seu bolso já esteja arrependido da precipitada decisão de contratar o serviço.
Logicamente, envolvido no apelo emocional do evento, escolhe-se os mais caros canapés, daqueles que pouco se percebe  do pobre pão ou torrada que sustenta uma mistura sofisticadíssima e de paladar inesperado composto de ingredientes indecifráveis e que resulta em algo  meio doce, meio picante, que não se presta a degustação nem mata a fome, porém, que é muito requintado.
Os docinhos glaçados são uma dulcíssima experiência. Nunca se sabe se aqueles objetos levemente perfumados e lindamente decorados são comestíveis ou apenas uma lembrança da festejada ocasião. E a dúvida permanece mesmo depois de já se ter comido alguns e sentido o apenas o gosto do açúcar do recheio e o do glacê. Paladares mais apurados podem resolver seu enigma avisando que este é de nozes e aquele, de avelã, como se houvesse muita diferença de sabor entre os dois frutos após longo convívio com a sacarose.
Enquanto o anfitrião se distrai entre as esperanças do sucesso da festa e as estripulias imaginárias de como conseguir dinheiro para pagar a conta dividida em várias prestações, o convidado também estará se divertindo em adquirir o presente.
Fatos originais podem ocorrer durante a ação de compra do regalo. Como, no exemplo a seguir, baseado em situação real, pagar e não poder levar. Uma vez que  o presente constava da lista de casamento, a entrega teria que ficar sob a responsabilidade  da loja e nunca da pessoa compradora e amiga dos noivos, afinal, quem garantiria que chegaria ao destinatário? Nenhuma argumentação foi suficiente para liberar o objeto, embrulhado e pago, das garras da gerente da loja. Foi necessário um subterfúgio para que se alcançasse o resultado almejado. Desfeita a compra, devolvido o dinheiro, a compradora saiu da loja para a qual imediatamente retornou, pegou novamente o artigo escolhido, disse que um mimo era para uma tia velha, três vezes viúva e sem novas pretensões casamenteiras e, enfim, apesar de toda a desconfiança da gerente e de sua auxiliar, a peça teve que ser vendida, pois não havia como comprovar que a cliente dizia uma inverdade.
Aliás, ultimamente fazer qualquer tipo de compra tem se mostrado uma tarefa bastante cansativa, principalmente se a pessoa não escolhe devidamente as lojas onde depositar, além de seu dinheiro, a sua confiança de que está levando um produto de qualidade. Comprar em determinada loja bastante conhecida e da qual, pela ética do consumidor, não convém declinar o nome, é garantia certa de retorno nos próximos dias. Não necessariamente para comprar outro exemplar da mesma mercadoria, por ter muito agradado, senão, para trocá-lo diversas vezes por apresentar algum defeito. 
Vejamos o caso do senhor que comprou um radinho de pilha. Sim, ainda existem. Pois o tal senhor comprou o aparelhinho, evidentemente sem testar, porque tal alternativa não oferece a casa varejista. No caixa aceitou pagar por uma garantia estendida de modo a lhe afiançar dobro do tempo de bom funcionamento, um excelente negócio, cria ele.
Em casa, ao testar o aparelho não encontrou a tampa do compartimento de pilhas e, no dia seguinte, voltou à loja a fim de solicitá-lo. Ficou numa fila enorme, entre uma mulher que reclamava o defeito de um ferro elétrico e um rapaz que dizia estar trazendo, pela quarta vez, um brinquedo que não funcionava. Ao chegar sua vez, disse que só queria a tal peça que lhe faltava e não levou em conta o estranhamento da atendente quando lhe ouviu dizer que o rádio estava funcionando perfeitamente.
E estava ele satisfeito ao ouvir um jogo de futebol quando, antes mesmo da oportunidade do primeiro gol, o rádio ficou completamente mudo, sem sequer um chiado, tal qual um soluço ou um suspiro que insinuasse  um resquício de vida. Sacudiu, deu tapinhas, tirou e recolocou as pilhas e nada. Inutilmente repetiu a série de tentativas, perdeu a paciência, chocou o aparelho contra a parede depois, contra o chão, onde as pilhas e peças se espalharam. Não se conformando com o infortúnio, resolveu ler as instruções de uso que acompanhava a máquina. Estava em mandarim. Se em português estive, talvez nosso personagem mais ainda se aborreceria ao ler que a garantia oferecida era de apenas quinze minutos. Trinta, se levarmos em conta o fato de ter pago mais pela garantia estendida.


  


Nenhum comentário:

Postar um comentário